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Tecnologia Nuclear: Brasil pode ser autossuficiente em fármacos contra o câncer

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Radiofármacos – segundo definição da Anvisa – são preparações farmacêuticas com finalidade diagnóstica ou terapêutica que, quando prontas para uso, contém um ou mais radioisótopos. No Brasil, as substâncias são utilizadas há pelo menos 50 anos, porém, só a partir de 2006 empresas privadas puderam começar a produzir e distribuir radiofármacos de meia-vida curta, que antes ficavam restritos aos Institutos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Sobre essa questão, leia o artigo a seguir de um especialista no assunto, Ney Zanella dos Santos, diretor-presidente da Amazul, entituladoBrasil pode ser autossuficiente em fármacos contra câncer”.

Ney Zanella dos Santos*

“Centenas de milhares de brasileiros se submetem a cada ano a exames de cintilografia e PET-Scan, entre outros, usados para diagnóstico de câncer e doenças cardíacas, e fazem uso de radiofármacos para tratamento de tumores. Entre eles certamente está um incontável número de militantes que são contra a construção de reatores nucleares, mesmo destinados a fins pacíficos, e desconhecem as aplicações e os incalculáveis benefícios da medicina nuclear.

Os radiofármacos são substâncias radioativas usadas, em quantidades mínimas e de forma segura, como ferramenta para acessar o funcionamento de órgãos e tecidos vivos, produzindo imagens e diagnósticos e auxiliando o tratamento. Com baixa radioatividade, essas substâncias não oferecem riscos quando aplicadas.
O Brasil importa da França, Rússia e África do Sul radioisótopos, insumo para a produção dos radiofármacos, que são repassados a clínicas e hospitais. Esses permitem a realização anual de 2 milhões de procedimentos de medicina nuclear, número bem inferior à demanda nacional. Para se ter uma ideia, a vizinha Argentina realiza cinco vezes mais procedimentos.

Pior: aumenta a cada ano o número de pacientes que precisam de exames médicos que fazem uso de tecnologia nuclear, mas não se amplia o acesso a ela, principalmente das populações mais carentes. O Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, é responsável por apenas 30% da demanda nacional. E 80% dos quase 400 mil procedimentos de diagnóstico realizados pelo SUS são da esfera privada. Soma-se a isso o baixo acesso de populações fora do Sul/Sudeste a tecnologias proporcionadas pela medicina nuclear.

Para tornar o País autossuficiente na produção de radioisótopos, a Comissão Nacional de Energia Nuclear e a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. iniciam o desenvolvimento do projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), cujo maior objetivo é tornar o país autossuficiente na produção de radiofármacos. Criada há menos de quatro anos, a Amazul desenvolve tecnologias sensíveis para o Programa Nuclear da Marinha, Programa Nuclear Brasileiro, no qual se insere o RMB, e Programa de Desenvolvimento de Submarinos.

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O aparelho Gama Câmara (ou Câmara de Cintilação) é um sistema de detecção de radioatividade utilizado para o estudo de diferentes radiofármacos.

A construção do RMB permitirá pelo menos duplicar a oferta de medicina nuclear para atender à população.  O terreno para a construção do RMB já foi cedido pela Marinha do Brasil. O projeto básico de engenharia já está pronto. As licenças prévias já foram concedidas. E os recursos para o projeto detalhado, da ordem de R$ 150 milhões, já estão disponibilizados via Finep, empresa pública de fomento à ciência, tecnologia e inovação.
O que falta para que esse projeto saia do papel e cumpra suas funções científicas, tecnológicas e, sobretudo, sociais?

Falta o principal, que é a garantia de recursos para que o empreendimento não sofra mais atrasos. Todos sabem que projetos estratégicos como este costumam ser estrangulados pela falta de recursos provocada seja por crises cíclicas, seja pela mudança de prioridades dos sucessivos governos.

Para a garantia de recursos, é necessária a conscientização e o apoio da sociedade, principalmente dos setores organizados, de instituições das áreas de tecnologia e saúde, da Imprensa e dos parlamentares sobre a importância do RMB, um empreendimento que absorverá cerca de US$ 500 milhões.

Não é só a área de saúde que será beneficiada pela construção do RMB, pois as aplicações dos radioisótopos se estendem à indústria, ao meio ambiente e à agricultura, por meio de traçadores nucleares. Além disso, o empreendimento desenvolve capacidade nacional para testar e qualificar materiais e combustíveis nucleares, e amplia conhecimento e segurança em projetos de reatores de potência, que podem ser usados seja para geração de energia, seja para propulsão naval.
O RMB é uma conquista de todos nós.”

*Ney Zanella dos Santos, vice-almirante da reserva, é diretor-presidente da Amazul.

O Urânio produzido no Brasil sai de Caetité (BA)

As Indústrias Nucleares do Brasil (INB) é quem produz todo o Urânio no território brasileiro. Na sua unidade, situada no município de Caetité (BA), está implantada a única mineração e beneficiamento do urânio em atividade no país. Ali são realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério, que resulta no produto chamado concentrado de urânio ou yellowcake.

Em Caetité há uma província mineral com reservas estimadas em 110 mil toneladas de urânio, onde estão localizados 38 depósitos do minério (anomalias).

A unidade minero-industrial de INB Caetité produziu nos últimos 16 anos 3.750 toneladas de concentrado de urânio, todas da exploração da mina Cachoeira, cuja jazida, a céu aberto, está exaurindo sua produção depois de 15 anos de exploração. Outra mina – a do Engenho – está em processo de licenciamento para exploração, também a céu aberto. Mina de uranio de cahoeira em caetite

O concentrado de urânio produzido pela INB é enviado à Europa para conversão, onde é feita a transformação do concentrado em gás (hexafluoreto de urânio – UF6). Posteriormente, já no Brasil, é processado o enriquecido isotópico.

O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de reserva de urânio, com 5,3% (309 mil toneladas). Os quatro primeiros colocados são: Austrália (28,7%), Cazaquistão (11,2%), Canadá e Rússia (8,3% cada).

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