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Iguape vírus: revisão científica reacende atenção a flavivírus pouco estudado no Brasil

Descoberto em 1979, no Vale do Ribeira (SP), o IGUV integra o grupo dos orthoflavivirus e tem sido detectado em diferentes espécies animais, mas segue sem caracterização completa em humanos. (Imagem: vírus Rocio (ROCV) / Divulgação)

Descoberto em 1979, no Vale do Ribeira (SP), o IGUV integra o grupo dos orthoflavivirus e tem sido detectado em diferentes espécies animais, mas segue sem caracterização completa em humanos. (Imagem: vírus Rocio (ROCV) / Divulgação)

São Paulo, setembro de 2025 – Artigo publicado na revista Viruses traz à luz um agente viral ainda pouco explorado pela ciência: o vírus Iguape (IGUV). A revisão científica foi conduzida pela biomédica brasileira Marielena Vogel Saivish (University of Texas Medical Branch – UTMB / FAMERP), em colaboração com Maurício Nogueira (FAMERP), Shannan Rossi (UTMB) e Nikos Vasilakis (UTMB).

Entre os principais pontos deste trabalho destacam-se:

  • O IGUV foi inicialmente isolado em camundongos sentinelas, após quadro de tremores, paralisia e encefalite fatal
  • Soropositividade foi identificada em aves migratórias, morcegos, roedores, marsupiais e cavalos, sugerindo um ciclo silvestre complexo.
  • A presença em mosquitos do gênero Anophelesamplia o debate sobre potenciais vetores.
  • Em equinos de São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul foram detectados anticorpos, o que reforça a hipótese de exposição contínua.
  • Apesar de não haver casos humanos confirmados, a semelhança clínica com outras arboviroses (dengue, febre amarela, encefalite de Saint Louis) levanta a possibilidade de subnotificação ou confusão diagnóstica.

“O Iguape é um vírus enigmático. Sabemos que ele circula entre espécies animais e vetores, mas não compreendemos seu real impacto em humanos. Sem diagnóstico e vigilância ativa, ele pode permanecer invisível até emergir em surtos inesperados”, afirma Saivish.

Segundo a pesquisadora, o principal desafio é a ausência de ferramentas específicas:

  • Não há teste diagnóstico comercial para IGUV;
  • O genoma viral permanece pouco explorado em bancos de dados;
  • Faltam modelos animais padronizados para avaliação patogênica;
  • Não existem vacinas ou antivirais em desenvolvimento direcionados ao vírus.

O Brasil já vivenciou emergências relacionadas a orthoflavivírus negligenciados, como o Rocio, responsável pela maior epidemia de encefalite no país nos anos 1970, e o Zika, inicialmente considerado de baixo risco. O alerta é que o IGUV pode seguir trajetória semelhante, caso siga ignorado.

As mudanças climáticas, a pressão antrópica sobre áreas silvestres e a expansão de mosquitos vetores criam um ambiente propício para sua reemergência.

A brasileira lidera uma pesquisa sobre o vírus e atua em três frentes principais:

  1. Mapeamento de hospedeiros e vetores para esclarecer o ciclo de transmissão;
  2. Sequenciamento genômico para identificar mutações e potenciais riscos;
  3. Desenvolvimento de diagnósticos moleculares e sorológicos que permitam distinguir IGUV de outras arboviroses.

O estudo tem apoio da FAPESP, do CNPq e do NIH/EUA (Centers for Research in Emerging Infectious Diseases – CREID).

Meu artigo “Exploring Iguape Virus – A Lesser-Known Orthoflavivirus” reposiciona o IGUV no debate científico global e destaca a urgência de investimento em vigilância, diagnóstico e pesquisa translacional. “Para a comunidade científica, representa um chamado à ação antes que um vírus negligenciado repita trajetórias já conhecidas de arboviroses no Brasil”, complementa Marielena.

Marielena-Vogel-SaivishMarielena Vogel Saivish (Foto divulgação) – Biomédica com diversas especializações lato sensu concluídas, incluindo Epidemiologia e Vigilância em Saúde, Saúde Pública e Vigilância Sanitária, Imunologia e Microbiologia, Biossegurança e doenças infecciosas, além de outras áreas correlatas. É mestre em Ciências Aplicadas à Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutoranda em Ciências da Saúde na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP-SP), com bolsa FAPESP. Atuou como Visiting Scientist na University of Texas Medical Branch (UTMB), nos Estados Unidos, onde atualmente é research fellow e lidera pesquisas em virologia.

Especialista em arboviroses emergentes e negligenciadas — como dengue, zika, chikungunya, mayaro, oropouche e, especialmente, o vírus Rocio – é autora de mais de 30 artigos científicos de destaque internacional, incluindo publicações na Emerging Infectious Diseases (CDC/EUA) e na Viruses. Suas investigações buscam desenvolver modelos animais inéditos, antivirais promissores e testes diagnósticos rápidos, essenciais para o enfrentamento de ameaças virais negligenciadas.

Informações à imprensa: Márcia de Britto | Enviado Por: NR-7 Comunicação / Seven PR

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