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Jeremias Macário lança “Uma Conquista Cassada” no Regime Militar brasileiro

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O jornalista e escritor Jeremias Macário de Oliveira lança nesta quinta-feira (31/07), às 20:00h, na Livraria Nobel, em Vitória da Conquista (Avenida Otávio Santos, 207, Recreio), seu sua mais recente obra literária: “Uma Conquista cassada: cerco e fuzil na cidade do frio”, publicada pela Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA).

Dividido em seis blocos, o livro reconstitui os primeiros anos do “regime militar” brasileiro vividos em Vitória da Conquista/Bahia, quando então ocorreu a destituição do prefeito daquela cidade, Pedral Sampaio.

O livro demandou cinco anos de estudos, de pesquisas e entrevistas, com fatos inusitados para o leitor, como a presença de militantes do PCdoB, como o atual jurista Ruy Medeiros, o agricultor Manoel Novais e o ex-deputado comunista mineiro, Sérgio Miranda, membros do comitê regional em Vitória da Conquista, que tentavam organizar a resistência, através da construção uma área de preparação de luta guerrilheira na região.

Para o deputado Fabrício Falcão, a publicação do livro “dará um significativo passo para o resgate da memória de Vitória da Conquista, de maneira a jogar luz sobre fatos ainda obscuros e ajudar a recontar a história da ditadura militar, revelando os bastidores da resistência, permitindo a reflexão crítica sobre um tempo que precisa ser lembrado e abordado sob a ótica da atualidade, de liberdade democrática.”

“UMA CONQUISTA CASSADA: CERCO E FUZIL NA CIDADE DO FRIO”

jeremias macario

Jeremias Macário é jornalista e autor de outros dois livros

A neblina se movia lenta da Serra do Periperi naquela manhã do dia seis de maio de 1964. Como uma fumaça, aos poucos invadia a cidade de cerca de 50 mil habitantes. O frio começava a anunciar mais um inverno de baixas temperaturas. Os moradores levantavam com preguiça para seus afazeres. Era para ser um dia como qualquer outro, mas não foi isso o que aconteceu. Ainda nos primeiros raios do amanhecer, mesmo depois de uma longa viagem do dia anterior, 100 homens da repressão se preparavam para uma marcha. Armados de fuzis e metralhadoras, a tropa já havia traçado os planos para cumprir a missão. O deslocamento indicava o centro e outros pontos estratégicos. O cerco estava se fechando para os “inimigos subversivos”. A ordem era encurralar a prender. Nesse tom dissertativo, começa o livro de história do experiente jornalista baino Jeremias Macário de Oliveira.

Na história que Jeremias conta, há um capítulo recheado de fatos importantes e inéditos dos tempos da Ditadura Militar, os quais aconteceram nos dias cinco e seis de maio de 1964 em Vitória da Conquista. A cidade foi palco de prisões e até mortes. Aconteceu por ali o primeiro “suicídio” do Brasil de um preso político nas dependências de uma cadeia aos cuidados dos militares.

O livra e Macário finalmente está pronto. “UMA CONQUISTA CASSADA” foi o título mais apropriado quando a Ditadura, através da força dos fuzis, obrigou os vereadores, naquele dia seis de maio, a se reunirem na 30ª Sessão para votar a cassação do prefeito eleito pelo povo, José Fernandes Pedral Sampaio, que já se encontrava preso na Companhia da Polícia Militar da Bahia (9º Batalhão) com outros companheiros.

O clima era de muito temor entre a população que foi encurralada pela tropa federal. Era uma pequena cidade do interior que começava a crescer. Pânico e terror nas ruas! Muitos boatos, muito medo e gente fugindo!

DELAÇÃO ENTRE IRMÃO

Na ótica do jornalista/escritor foram quatro anos de estudos e pesquisas para levantar a memória de um dos capítulos da vida de Vitória da Conquista que, infelizmente, está sendo perdida e esquecida por muita gente e pelo tempo com o desgaste dos documentos.

Logo após o Golpe, o prefeito de Conquista foi o primeiro na Bahia a ser cassado pela imposição brutal do novo Regime dos generais. De tão pressionado, um perseguido viajou até Salvador para se entregar. Teve irmão entregando irmão, e até fotografar enchente foi proibido.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica local montaram uma trincheira contra a Ditadura nos tempos do bispo Dom Climério. A cidade abrigou um preso marxista condenado à morte na clausura de um convento de monjas onde fez um quadro de Nossa Senhora das Candeias. Uma conquistense foi guerrear no Araguaia, deixando a família para trás para se internar na selva. Outro conquistense foi barbaramente torturado, e um jovem, que depois foi ser padre, tentou entrar na guerrilha. Houve também um grande empresário financiador do Regime.

Na visão do historiador, da forma como Pedral foi arrancado da Prefeitura Municipal, num processo antidemocrático de flagrante desrespeito à Constituição, não foi somente o executivo que teve seus direitos cassados. Todo o povo da cidade que votou nele nas eleições de 1962 foi também duramente atingido.

O foco do livro se concentra em maio de 1964, em Vitória da Conquista, a partir das prisões de cerca de 100 pessoas consideradas subversivas por terem apoiado o governo deposto de João Goulart e suas anunciadas reformas de base. O cerco dos fuzis começou a acontecer no dia cinco de maio, quando a cidade foi tomada de assalto. No dia seguinte começaram a colocar em prática uma operação de guerra e terror através das prisões.

O livro mostra uma Conquista com viés socialista que vinha sendo construída a partir da derrubada das forças conservadoras e burguesas foi massacrada. Todo cenário político, cultural e social foi abalado. Muita gente se recolheu e os ideais foram silenciados.

A partir daquele episódio aconteceram vários fatos, muitos dos quais desconhecidos do nosso povo. Um deles, que chamou despertou a atenção do escritor, foi o polêmico “suicídio” de Péricles Gusmão Regis, encontrado morto numa das celas da Companhia da Polícia Militar da Bahia (9º Batalhão da Polícia Militar), no dia 12 de maio de 1964.

A obra de Jeremias Macário – segundo ele próprio – não trata especificamente de uma obra acadêmica e não foi essa a intenção dele. É um livro-reportagem com uma mistura de literatura e jornalismo investigativo, acessível à consulta e à compreensão de todos. É a história de “UMA CONQUISTA CASSADA”, cujos personagens contribuíram para seu desenvolvimento e sua evolução ao longo desses anos. É “UMA CONQUISTA CASSADA” que deu a virada por cima e se tornou num dos pólos mais dinâmicos do Nordeste.

EM SEIS BLOCOS

O livro, dividido em seis blocos distintos, aborda, pela ordem, as questões socialistas no mundo (a russa, a chinesa e a cubana) que influenciaram novas idéias e movimentos sociais nas décadas de 50 e 60, especialmente na América Latina.

O segundo bloco trata dos movimentos sociais, rebeliões, levantes, conspirações e golpes na história do Brasil colonial, imperial e republicano, além dos regimes arbitrários até a Ditadura de 1964.

O terceiro conta a história de Conquista, suas evoluções sócio-culturais e o crescimento econômico e político até a chegada da Ditadura Militar, culminando com os fatos das prisões.

Para este bloco, mais de 30 pessoas foram entrevistadas, fatos foram pesquisados nas atas da Câmara Municipal de Vereadores, no Arquivo Municipal, nos jornais da época (A Tarde), no arquivo do Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia, nos livros de autores locais e na literatura nacional.

Para melhor contextualização, o quarto bloco situa a questão dos grupos e das organizações revolucionárias na luta armada contra a Ditadura. O quinto fala de pontos polêmicas como da anistia geral e irrestrita de 1979, da destruição de documentos, da abertura dos Arquivos, da “Comissão da Verdade” e da punição ou não dos torturadores.

O último bloco é um tributo à “DÉCADA DE 60”, segundo o autor, por ter sido a mais prodigiosa de todas. “Os sonhos conquistados abriram caminhos para as outras décadas passarem. A DÉCADA DE 60 teve seu espírito orgástico e lisérgico que alucinaram gerações”, conclui o jornalista/ historiador.

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