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É hora de carregar água na cabeça

joao martins editorPor João Martins

Um “dedo” de prosa dos mais velhos, sobre as grandes estiagens do seu tempo, começava assim: — “Nós lá em casa – crianças e gente grande – saíamos todos os dias em procissão pelas estradas levando garrafas, potes d’água e pedra na cabeça, em penitência, pedindo pra chover no sertão.

Quantos séculos já se passaram e a história se repete, não com a mesma intensidade de antes, mas também em lugares onde jamais isso ocorreu! Na semana passada, por exemplo, assisti a uma reportagem na TV que mostrava uma comunidade do interior de São Paulo – salvo engano, Ribeirão Preto – seguindo o mesmo ritual dos nordestinos, em preces pedindo chuva.

Sinhá Maria Alves de Jesus, minha bisavó, que viveu perto de 100 anos, profetizava que “ia chegar um tempo onde as pessoas não saberiam o que era um boi ou um cavalo, pois tudo estaria dizimado da face da Terra”. Se realmente vai chegar esse tempo, não sabemos, mas a humanidade está caminhando para o pior.

Os apelos pela preservação do ecossistema, dos cuidados para com os mananciais que nos dão a água de beber, têm sido em vão. Poucos têm tido essa consciência, e quando a tem, são taxados de malucos. A Marina Silva bem que vem tentando incutir essa consciência na mente dos jovens da sua geração.

Os exemplos de destruição do meio ambiente se repetem por todos os cantos, mas poucos conseguem enxergar. Uns só despertam quando dói em si ou lhes faltam o de comer e de beber. Há mais de duas décadas vimos, incessantemente, denunciando esses descasos, principalmente nesta região da Serra Geral, onde convivemos.

O Rio São Francisco, percurso que nos alimenta, tem sido o maior mote das nossas queixas, sem que, no entanto, fôssemos ouvidos. Muitas vezes denunciamos os desmatamentos das nossas matas primárias, dos mananciais que regam o grande rio, mostramos os córregos de esgotos sanitários vomitando no leito de onde se retira a água de beber, denunciamos o soterramento das suas margens… De nada ou quase nada valeu. O Rio São Francisco está morrendo.

Na semana passada retornamos ao leito do Velho Chico, nas cidades de Malhada e Carinhanha, para ver e pisar sobre a “ferida” aberta no leito do Rio da Integração Nacional. A situação lá é dramática, de penúria, de pena e medo do pior. “Nunca vi este rio tão baixo como está agora”, exclamavam três desconsolados pescadores que lastimavam a falta do peixe e do rio para navegar.

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