Apenas 3% da produção mundial de algodão é de fibras longas ou extralongas
Pesquisadores da Embrapa selecionaram linhagens de algodão de fibra longa e adaptadas às condições de produção brasileiras. O resultado da pesquisa foi publicado na revista Crop Science. Durante o estudo foi obtida uma alta porcentagem de progênies (plantas filhas) de comprimento superior a 32 mm.
O algodão de fibra longa permite a produção de fios mais finos usados pela indústria têxtil na confecção de tecidos de luxo e linhas de costura. Apenas 3% da produção mundial de algodão é de fibras longas ou extralongas e está concentrada nos Estados Unidos, Peru e Egito (país que gerou a chancela “algodão egípcio”).
O ensaio para selecionar as linhagens de fibra longa teve início em 2008, com o cruzamento das cultivares Guazuncho 2, escolhida pela capacidade de produção, e Acala SJ4, pelo comprimento longo da fibra. A partir daquele cruzamento foram selecionadas as plantas com maior comprimento de fibra. “Nós avaliamos cerca de 600 plantas no Laboratório de Fibras e Fios, sempre selecionando aquelas com maior comprimento de fibra e eliminando as outras. Ao final do experimento, chegamos a 35 linhagens, sendo grande parte de comprimento entre 32 e 34,1 mm”, conta o pesquisador da Embrapa Algodão (PB) Luiz Paulo de Carvalho.
Mais resistente a doença
Segundo o pesquisador, uma das vantagens desse material é que ele é originário da espécie Gossypium hirsurtum. “Nós poderíamos plantar uma variedade Giza (egípcio) ou Pima (americano e peruano), mas esses materiais de origem do Gossypium barbadense são muito suscetíveis à bacteriose. O nosso material é descendente de G. hirsurtum e com isso esperamos ter menos problemas com bacteriose”, compara Luiz Paulo.
Durante a pesquisa, observou-se um ganho genético para o comprimento de fibra em torno de 7%. “Isso indica que podemos chegar a uma cultivar de algodão herbáceo de comprimento de fibra próximo aos algodões de fibra extralonga comercializados atualmente a partir de G. hirsurtum”, explica o pesquisador. “Até então, nunca tinha se chegado a esses comprimentos de fibra a partir do G. hirsurtum”, salienta.
Os materiais serão ainda avaliados em ensaios nos campos experimentais da Embrapa para verificar se mantêm as características de fibra. A previsão é que num período entre três e quatro anos seja selecionada variedade de algodão herbáceo de fibra próximo a extralonga, indicada para cultivo em região semiárida.
Mercado a explorar
O Brasil já cultivou algodão de fibra longa, o algodão arbóreo (Gossypium hirsutum L.r. marie galante) mas a variedade tem hábito de crescimento perene, o que significa que permanecem vivas no campo por vários anos, o que dificulta o manejo do bicudo-do-algodoeiro e praticamente já não vem sendo produzida nos últimos dez anos. Os novos materiais têm ciclo anual e facilitam o manejo do bicudo.
Atualmente, quase cem por cento a produção nacional é classificada como fibra média, em torno de 28 mm. Para suprir o mercado interno de fibras longas e extralongas, estimado em 3% da demanda nacional de algodão, o Brasil importa o produto principalmente do Egito.
Mercado para o semiárido
Para Luiz Paulo, o algodão de fibra longa e extralonga é um importante nicho de mercado que pode ser explorado pelos pequenos produtores do Semiárido, a exemplo de outros algodões especiais como o colorido e o orgânico. “O Brasil tem um mercado potencial de cerca de 30 mil toneladas de pluma, que seriam suficientes para suprir esse mercado e deixaríamos de importar esses materiais.”
O pesquisador explica que a melhoria da qualidade da fibra é uma das estratégias da cadeia produtiva nacional para garantir competitividade. “O algodão tem perdido mercado para as fibras sintéticas derivadas de petróleo, e uma aposta para garantir a sustentabilidade da cultura é investir em fibras naturais de qualidade diferenciada e que remunere melhor o produtor,” afirma.
Fonte: Embrapa Algodão
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