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E os nossos netos terão saudades de quê?

editorial
O que me fazia chorar era a saudade do sertão e das pessoas que deixei

Nada neste mundo acontece por acaso, nem as tempestades, os tufões, os relâmpagos, os vulcões… Tudo é conseqüência de ações combinadas. Nunca somos pegos de surpresa; as pessoas é que fingem nada saber e se esquivam da responsabilidade, como se os problemas fossem da responsabilidade dos outros.

O que testemunhamos nos dias atuais, em todos os setores da nossa desorganizada sociedade – na economia, na política, na educação, na saúde, na segurança, no amparo social – é a total insanidade moral e ética dos gestores do sistema político brasileiro.  Aliás, ninguém foi pego de surpresa diante dessa situação escancaradamente previsível. Os sábios pensadores já vinham cantando a “pedra” desse desmantelo.  A bancarrota político-administrativa brasileira vinha se alastrando como um câncer, numa progressão geométrica.

É profundamente lamentável e preocupante que o tinir das espadas tenha propósitos diferentes em nossas ruas: uns movidos pela febre patriótica que indignam os brasileiros diante da inércia política, outros sob ordens de um comando movido por uma ideologia sectária, e há ainda outros camuflados em objetivos escusos.

Neste pedaço de Brasil, onde me acho, sobrevivente dos sertões do Médio São Francisco, a realidade não é diferente do resto do país: o clima é de hostilidade entre as pessoas; a sociedade está inquieta, a economia em frangalhos, os políticos com a mesma sanha dos “tempos dos quintos” que custou a vida dos inconfidentes brasileiros, a violência exacerbada nas ruas copiam as metrópoles, o estopim curto e aceso do exército da desordem criado pelo «petismo» enfurece a sociedade…

Tudo isso nos remete a uma reflexão pouco otimista em relação ao futuro próximo do Brasil. Queira Deus, as mudanças prometidas no âmbito das governanças sejam indício de dias o melhores.

Nos mais de 30 anos de minha vida profissional dedicados ao jornalismo, os milhões ou bilhões de verbetes que fiz imprimir pelo bem comum da gente deste meu sertão da Bahia, jamais foram tão censurados e desrespeitados, como ultimamente acontece. Sinto-me acuado diante da imoralidade política e indiferença dos “donos” do Poder, até mesmo no meu próprio torrão natal.

Passei minha infância e juventude – vivi o chamado período da “exceção”, como querem alguns -, quando, mesmo desprovido de riqueza e conhecimento, nada me faltou na escola (nem livro, nem merenda, nem médico e dentista, nem bom professor), nunca fui assaltado nas ruas ou em meu humilde lar na capital dos Bandeirantes, nunca fui impedido ou molestado por andar sozinho de dia ou de noite pelos muitos destinos deste imenso Brasil, nunca antes me faltou uma oportunidade de trabalhar…

Me lembro também que os sertões e suas gentes – é necessário de se diga – viviam em condições muito desiguais em relação aos da terra dos bandeirantes, mas nem por isso morriam mais gentes assassinadas ou nas filas dos hospitais, não eram assaltadas nem nas ruas nem em suas humildes casas ou casarões de fazenda.

Hoje, justamente quando eu deveria estar colhendo os melhores frutos da minha da vida, sou obrigado a me calar para não me opor a opiniões de quem nunca foi à escola, de quem nunca leu um livro, de quem não trabalhou, de quem está subjugado a um comando sem norte e sem saber por que o faz.

O cancro da imoralidade que contamina meu país é cortina de fumaça que ofusca nosso horizonte e nos separa de um abismo imensurável.  O Brasil precisa de outros muitos Sérgios Moro para peneirar o cascalho do pouco ouro que ainda resta em nossas minas.

Pobre José Bonifácio de Andrade e Silva, pobre Ruy Barbosa, Pobre Barão do Rio Branco, pobre princesa Isabel, pobre Mestre Ambrósio Rei do Tengo-Tengo, pobre Francisco Gê de Acayaba Montezuma, pobre tenente coronel José Antônio da Silva Castro, pobre Irmã Dulce, pobre Francisco Cândido Xavier…, seus esqueletos devem retorcer nos jazigos que lhes guardam.

“Libertas Quæ Sera Tamen” – (Liberdade, ainda que tardia). Há quantos anos meu Brasil conclama !!!

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