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Produtor rural obterá classificação do solo da sua propriedade no celular

Aplicativo dá agilidade para produtor classificar o solo da propriedade. Foto: Divulgação Embrapa

Aplicativo dá agilidade para produtor classificar o solo da propriedade. Foto: Divulgação Embrapa

Um aplicativo para dispositivos móveis permitirá que produtores rurais classifiquem os solos de diferentes áreas de sua fazenda. Com isso, cada talhão da propriedade poderá receber destinação adequada de acordo com o tipo de solo. Idealizado pela Embrapa Solos (RJ) em parceria com a Embrapa Informática Agropecuária (SP), o SmartSolos vai permitir que o produtor rural tenha a classificação do solo em tempo real. A tecnologia apresenta os resultados respondendo aos dados que o produtor insere no sistema. Após criar uma conta simples, o usuário faz, na primeira etapa, uma descrição geral de sua propriedade carregando dados e até fotos do solo e do perfil, por exemplo. Informações como data e localização geográfica são inseridas de maneira automática pelo sistema. No fim dessa fase, o produtor obterá uma classificação aproximada.

Na etapa mais detalhada, deverão ser inseridos dados obtidos com análises de laboratório como as características físicas e químicas do solo. Com todas essas informações, o SmartSolos classifica até o quarto nível do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS).

Os pesquisadores Stanley Oliveira e Glauber Vaz, da Embrapa Informática Agropecuária, desenvolveram dois sistemas diferentes que atuam na tecnologia. O primeiro, chamado de “especialista”, opera segundo as regras do SiBCS e classifica o solo conforme o usuário insere as informações necessárias. Já o sistema denominado “inteligente” utiliza algoritmos de inteligência artificial para predizer uma classificação, mesmo na ausência de algumas informações.

O foco do trabalho agora é na camada de apresentação do aplicativo, que está sendo desenvolvida em parceria com uma empresa terceirizada. “É a partir dessa camada que o usuário poderá interagir e utilizar todas as funcionalidades do aplicativo SmartSolos”, revela Luís de França, da Embrapa Solos.

Tecnologia dinâmica

França informa que o SmartSolos foi projetado para ser uma tecnologia dinâmica, com capacidade de evoluir com o tempo e se adaptar a novas funcionalidades. “Futuramente, os resultados das análises laboratoriais, por exemplo, poderão ser enviados automaticamente ao aplicativo”, exemplifica.

sobre o soloA expectativa dos pesquisadores é que o aplicativo não seja apenas um classificador de solos, mas um agregador que reúna em uma mesma plataforma vários aplicativos a serem desenvolvidos ou adaptados para dispositivos móveis. O SmartSolos deverá ser capaz de adaptar a informação de solos não apenas às tecnologias atuais, mas também às tecnologias emergentes (impressão 3D, realidade virtual, novas interações com o Big Data etc).

O aplicativo deverá apresentar múltiplas interfaces a fim de fornecer informações úteis de forma acessível para públicos diferenciados como agricultores, estudantes, técnicos, professores e pesquisadores.

França lembra que, há poucos anos, não existiam aplicativos sobre a terra no Brasil. “Hoje, já há um bom número de apps e a tendência é de crescimento. Boa parte desses produtos tem como foco a interpretação de análise de solos e recomendação de corretivos e fertilizantes (Nutrisolo, Solo Certo, Solum, etc.), ou a visualização de mapas específicos, classificação textural, etc.”, conta o pesquisador.

O SiBCS, automatizado em linguagem acessível, além de poupar tempo e minimizar eventuais erros humanos, poderia, por exemplo, utilizar o reconhecimento de voz para entrada de dados, dispensando a digitação; organizar a saída de resultados em diferentes formatos de arquivo (.txt, .doc, .xls), e compartilhá-los instantaneamente (e-mail, wifi, Bluetooth, 4G). Além disso, o SmartSolos vai fazer a correspondência das classes de solo do SiBCS com as classes de solo de outros sistemas taxonômicos como o World Reference Base (WRB), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com um simples toque na tela do smartphone.

A importância da classificação do solo

“Sabendo a classificação do solo de determinada área conhecemos várias informações a respeito dele”, diz o pesquisador da Embrapa Solos Mauricio Rizzato Coelho. Ao separar na paisagem uma área de latossolo vermelho-amarelo distrófico, por exemplo, os estudiosos sabem que ele geralmente ocorre em relevo plano, sem problemas de mecanização, é pobre em nutrientes, precisa de adubação e calagem; no entanto, não costuma ter problemas em sua estrutura física. As atualizações na classificação da terra no Brasil são feitas a cada dois anos, quando são realizadas as reuniões de classificação e correlação de solo (RCC).

Pesquisadores e especialistas em solos de diversas instituições percorrem o roteiro da viagem de campo para descrever a terra, discutir seus atributos e sua classificação, bem como fazer correlações in situ entre ocorrências das classes de solos, sua natureza e propriedade, além de suas características geoambientais, vulnerabilidades e potencialidades para uso agrícola.

As RCCs são grande oportunidade de troca de conhecimento e aprimoramento, já que levam os cientistas para locais da ocorrência da terra a ser estudada. “Essa itinerância e prática são os diferenciais em relação aos demais eventos da área de ciência do solo, repercutindo nos resultados alcançados”, avalia Maria de Lourdes Mendonça, chefe-geral da Embrapa Cocais (MA).

A próxima reunião será em outubro de 2019, quando a caravana de cientistas vai percorrer o Maranhão, estado particularmente interessante para os estudiosos das ciências naturais por abrigar três biomas: Amazônia, Cerrados e Caatinga, além de diversos ambientes de transição, campos inundáveis, restingas e manguezais. Há também grande diversidade em geologia, geomorfologia, clima, vegetação e, consequentemente, dos solos.

Hand planting seeds on a natural soil background. Closeup image.

Hand planting seeds on a natural soil background. Closeup image.

PronaSolos, o detalhamento de todo o País

Com o avanço da ciência e o surgimento de novas tecnologias no começo do século, como o geoprocessamento, mapeamento digital de solos e o monitoramento agrícola por satélite, o levantamento de solo no campo foi colocado em uma berlinda.

“Lembro que, no Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, que aconteceu em Gramado, em 2007, corriam até boatos sofre o possível fim da pedologia, o estudo do solo no seu ambiente”, recorda a professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Lucia Helena dos Anjos.

Apesar dos momentos difíceis pelos quais passou, a pedologia vem ganhando novamente o interesse da sociedade, de acordo com a pesquisadora Maria de Lourdes Mendonça. “Conhecer os solos para melhor manejá-los pela otimização da aplicação de práticas agronômicas sustentáveis, bem como para executar planejamento de uso das terras por meio de zoneamentos, tornou-se indispensável, inclusive para a definição de políticas públicas”, afirma Maria de Lourdes Mendonça.

Além disso, o anúncio da realização do Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos) trouxe o levantamento de solo para o centro do debate acadêmico no Brasil. O programa é um trabalho inédito de grandes proporções que irá elevar o conhecimento sobre os solos brasileiros. Coordenado pela Embrapa, ele pretende mapear o território brasileiro e gerar dados com diferentes graus de detalhamento para subsidiar políticas públicas, auxiliar na gestão territorial, embasar agricultura de precisão e apoiar decisões de concessão do crédito agrícola, entre muitas outras aplicações. Orçado em até R$ 5,5 bilhões de reais, o PronaSolos deve gerar ganhos de R$ 40 bilhões ao País dentro de uma década, de acordo com especialistas.

“O fato de termos um sistema de classificação feito aqui, adequado às nossas condições, vai fazer com que geremos informações com mais qualidade para o Pronasolos”, afirma Rizzato. Por outro lado, o Programa também vai permitir que, conhecendo melhor os solos de diversas regiões do País, o SiBCS se torne ainda mais útil. “Dessa maneira criamos uma relação de cooperação entre o SiBCS e o PronaSolos: um alimenta o outro”, analisa.

O PronaSolos envolverá diversos ministérios e órgãos federais em torno do objetivo de fazer o mapeamento do solo de norte a sul do Brasil no período entre dez e 30 anos, em escalas que tornem viáveis a correta tomada de decisão e estabelecimento de políticas públicas nos níveis municipal, estadual e federal – 1:25 mil, 1:50 mil, 1:100 mil, respectivamente. Isso significa que cada um centímetro do mapa corresponde a um quilômetro de área (na escala de 1:100 mil). A definição das escalas dependerá das prioridades governamentais. O maior detalhamento (de 1:25 mil) é desejável, por exemplo, para o planejamento de propriedades e na agricultura de precisão, o que vai influenciar diretamente na concessão de crédito rural. (Foto: iStock)

Carlos Dias (MTb 20.395/RJ)
Embrapa Solos

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