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Açucar e etanol sem água: nova tecnologia reduz o consumo de água no setor sucroalcooleiro

A tecnologia desenvolvida e já adotada no País permite que as usinas não necessitem, literalmente, de uma única gota de água captada externamente para o processamento da cana e produção de açúcar e etanol. Foto: CEISE Br / reprodução

A tecnologia desenvolvida e já adotada no País permite que as usinas não necessitem, literalmente, de uma única gota de água captada externamente para o processamento da cana e produção de açúcar e etanol. Foto: CEISE Br / reprodução.

A produção de cana de açúcar já sofre com a maior frequência e intensidade das estiagens no País, impulsionando importantes pesquisas científicas para reduzir o uso da água, sem perder produtividade no campo e nas usinas. Avanços significativos no uso racional da água têm sido registrados nas usinas, no processo de produção de açúcar e do álcool. A tecnologia desenvolvida e já adotada no País permite que as usinas não necessitem, literalmente, de uma única gota de água captada externamente para o processamento da cana e produção de açúcar e etanol.

O Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) tem contribuído diretamente com grande parte dessas pesquisas, seja por meio de financiamento, seja apoiando pesquisadores e empresas na estruturação de seus projetos. “As estiagens mais prolongadas aliadas às crescentes dificuldades de obtenção de outorgas para irrigação aumentam a preocupação dos produtores com o uso racional da água, não apenas do Estado de São Paulo, mas também de outras regiões do país”, atesta Heitor Cantarella, engenheiro agrônomo, pesquisador e diretor do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, e membro da Coordenação do BIOEN.

Sinal amarelo

O Relatório de Acompanhamento da Safra Brasileira de cana-de-açúcar da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revela que, para a safra 2021/22, há previsão de queda de 9,5%, cerca de 60 milhões de toneladas a menos do registrado na safra 2020/2021. O estado de São Paulo, que concentra a maior parte da produção nacional de cana, apresenta hoje um índice de pluviometria média de 1.400mm ao ano, que ainda é suficiente para o bom desenvolvimento da cana (acima de 1.200mm, segundo parâmetro da Embrapa). Entretanto, dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) indicam que algumas regiões do centro norte do estado de São Paulo registraram, em períodos anuais recentes, média pluviométrica abaixo dos 700mm.

Diante desse quadro, Cantarella destaca progressos no uso racional da água que estão ocorrendo na área de irrigação, no processo de plantio e colheita e na produção de açúcar e etanol. “Experimentos com irrigação por gotejamento possibilitam à cana manter bons níveis de produtividade com cerca de 50% do índice ideal de água”, exemplifica. Cita, em outras frentes, o uso de drones no apoio à irrigação e o georreferenciamento por satélite (GPS)nas máquinas agrícolas. “Na irrigação, em breve será possível usar imagens térmicas obtidas por drones que permitirão avaliar em detalhe a situação hídrica de grandes áreas e irrigar de acordo com a necessidade”, prevê.

A ampliação do uso de GPS no maquinário agrícola já contribui para evitar a compactação solo, cita o pesquisador. Durante o plantio e a colheita, as máquinas são guiadas com precisão para não invadirem as áreas das soqueiras, permanecendo em trilhas pré-determinadas. Com o solo menos compactado, o sistema radicular da planta pode se desenvolver melhor, aprofundar e extrair mais água e nutrientes do solo. “Isso permite que a planta acesse áreas mais profundas do solo, que tendem a manter a disponibilidade hídrica por mais tempo”, explica.

Usina autossuficiente em água

Em usinas como a Dedini Indústrias de Base, por exemplo, o processamento da cana para obtenção de açúcar e álcool utiliza parte da água extraída da planta em processos internos, tornando-a autossuficiente no insumo. Em alguns casos, cada tonelada de cana processada pode gerar um excedente utilizável de até 290 litros de água, calcula José Luiz Olivério, engenheiro mecânico de produção e consultor sênior da empresa. “Se a crise hídrica se aprofundar e ocorrer a ampliação do mercado de créditos de carbono, talvez essas unidades optem pela autossuficiência e até pela produção de excedentes de água. A tecnologia para isso já está disponível”, garante.

A Dedini lança mão de várias estratégias, como o aproveitamento de parte da água existente na própria cana, que é formada por 70% de água. Com o apoio do BIOEN, a empresa desenvolveu tecnologias para a recuperação e condensação de parte dos vapores do processo de produção de açúcar e álcool, reutilizados nos processos internos da usina. Em outra etapa da produção, substituiu o sistema de lavagem da cana pela limpeza à seco da cana e da palha por fluxo de ar, composto por uma série de esteiras que permitem a completa limpeza das impurezas.

Olivério destaca, ainda, a concentração parcial da vinhaça e a captação da água evaporada nesse processo. O produto resultante tem entre 60 e 65% de sólidos em seu teor, o que facilita seu uso como adubo, reduzindo, portanto, o número de viagens da adubação. “No caso das usinas certificadas pelo RenovaBio, isso pode até contribuir para gerar mais créditos de carbono (CBios)”, frisa.

Sobre o BIOEN

O BIOEN, Programa de Pesquisa em Bioenergia da FAPESP, visa articular pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) entre entidades públicas e privadas, utilizando laboratórios acadêmicos e industriais para avançar e aplicar o conhecimento nas áreas relacionadas à bioenergia no Brasil. As pesquisas abrangem desde a produção e o processamento de biomassa até tecnologias de biocombustíveis, biorrefinarias, sustentabilidade e impactos. Para mais informações, acesse http://bioenfapesp.org

Fonte: E-VOCAR

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