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Começa a Romaria ao Bom Jesus da Lapa

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Inicia nesta segunda-feira (28/07) os festejos de 2014, na cidade de Bom Jesus da Lapa, Bahia, em louvor ao santo padroeiro do lugar, Senhor Bom Jesus da lapa.

As celebrações religiosas têm como cenário principal o Santuário do Bom Jesus. Algumas missas acontecem ali, na gruta do Bom Jesus, e outras na gruta de Nossa Senhora da Soledade.

No dia da festa maior, 6 de agosto, e na semana que a antecede, mais de 400 mil romeiros são esperados à festa do Bom Jesus. Durante o ano, estima-se em cerca de 1,5 milhão de visitantes rumas ao santuário. O outro pico de visitação é em setembro, quando acontece a romaria de Nossa Senhora da Soledade, cuja festa é celebrada no dia 15. O volume de turistas é cerca de 23 vezes maior que toda a população do município (63.400 habitantes, segundo IBGE).

Já durante o mês de julho, o movimento começa a aumentar, tornando a cidade bem diferente com relação ao primeiro semestre. No dia 6 de julho deste ano, aconteceu a 37ª Romaria da Terra e das Águas, que contou com a presença de cerca de 6 mil pessoas de outros municípios da Bahia, de Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, Pernambuco, Mato Grosso e Paraná.

Localizada à margem direita o Ria São Francisco, sudoeste da Bahia, a 800 quilômetros de Salvador, a cidade de Bom Jesus da Lapa é conhecida como a “capital baiana da fé”. O título se deve ao fato de o local receber, todos os anos, romeiros de todo o Brasil, em romaria ao Senhor Bom Jesus da Lapa, um das três maiores manifestações religiosas do país – junto com a de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, São Paulo, e do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, Ceará.

“Bom Jesus da Lapa: história de fé e mistério”

A fé pode não mover montanhas; mas que ela aproxima o homem delas, isso é verdade. Uma das maiores provas está em Bom Jesus da Lapa, município rico em histórias, hoje capital da romaria na Bahia.

Poucos municípios localizados à margem de um rio, surgem e crescem sem a influência dele. Na maioria das vezes, além de dependerem da pesca e da caça, os moradores optam pela formação social “fluvial” como é o caso de localidades existentes na Amazônia, Mato Grosso etc. Bem poucos conseguem se destacar por outras riquezas. Entre esses poucos, se encontra o município Bom Jesus da Lapa. Localizado à margem direita do rio São Francisco, o núcleo urbano surgiu mais que de um “milagre “que propriamente pelo desbravamento econômico da área, como em outros lugares. Sua história remonta aos primórdios da colonização brasileira, no Século XVI. Duarte Coelho, capitão donatário de Pernambuco, pode ter sido o primeiro homem e ver e oficializar sua estada, no morro que se encontra à jusante da cidade de Lapa. Isso entre 1543 e 1550. Juntamente com seus soldados, ele comandava uma expedição que visava explorar as áreas sob sua custódia. Entretanto, foi somente em 1553, ordenado pelo primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, que chegou àquele local, uma expedição, formada por bandeirantes ligados ao reino.

Chefiada por Francisco Souza Espinosa, a bandeira chegou à gruta, deixando sinais de sua passagem, nas paredes internas. Juntamente com Espinosa, estavam o padre jesuíta Aspilcueta Navarro e Belchior Dias Moreira, o conhecido “Muribeca”. Juntos, fizeram sinais na área da gruta, destruídos somente em 1903, durante um incêndio de origem desconhecida. Ainda hoje, entretanto, existem pequenas marcas de uma passagem , em 1602, localizadas na saleta “Água do Milagre”. Trata-se de uma parte da história do Brasil pouco evidenciada através de documentos.

Porém, foi somente em 1663, depois de ter sido beneficiado por uma Carta-Régia que outro português, Antonio Guedes de Brito, conseguiu 160 léguas de terra na faixa que compreendia Morro do Chapéu e as nascentes do Rio das Velhas. Essas terras foram divididas por léguas, sendo alforriadas aos trabalhadores. Uma delas, o “Morro” acabou se transformando, no decorrer dos séculos, em povoado, vila e, hoje, cidade pólo turístico-religioso da Bahia. Em 1783, com a morte dos herdeiros, parte das terras ficou com os cesteiros, enquanto que outra parte foi considerada devoluta.

A GRUTA

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A história da cidade, entretanto, tem sua origem com a própria história da gruta, localizada no morro de 93 metros de altura. Sabe-se que em 1691, um português chamado Francisco Mendonça Mar, depois de viver 12 anos em Salvador, saiu, por conta própria, percorrendo o interior do estado, vestido de padre, carregando consigo a imagem do Senhor Bom Jesus, com apenas três palmos de altura. Distribuindo esmolas, ele despojou-se de todos os seus bens e resolveu viver como ermitão em lugar afastado da cidade. Foi assim que depois de longa caminhada descobriu o morro e, nele, encontrou refúgio em uma das grutas, até então identificado pelos viajantes como “toca de onça”. Naquela época, havia sido construída apenas uma Igreja, datada de 1680 e localizada em Urubu de Cima – hoje município de Paratinga -. A religiosidade imperava apenas em uma localidade, mas mesmo assim, Francisco Mendonça Mar preferiu se retirar do convívio social e se restringir a orações e penitências por ele próprio formuladas.

A notícia de que um estranho homem vivia solitário no interior do Estado, às margens do São Francisco, correu logo. Entre 1691 e 1700, a bandeira de Mathias Cardoso, chegou àquele local. Com ele, vinham ainda o Padre Antônio Filgueiras, seu lugar-tenente, João Amaro Maciel, Bartholomeu Bueno Filho, Domingos Rodrigues de Pradom e os irmãos Bicudo, cada qual com sua bandeira. Foram eles quem tomaram conhecimento “in loco” de Francisco Mendonça Mar e fizeram com que a notícia chegasse à Corte. Curiosidade não faltou e as pessoas passaram a visitar o “homem santo” que habitava a gruta. Não se sabe seu fim. Sabe-se apenas que em 1750, Bom Jesus da Lapa já era um arraial formado por 50 casebres de barro, cobertos de palha.

Cem anos depois, um relatório do engenheiro austríaco Halfed apresenta a localidade com 128 casas e apenas 250 habitantes “sedentários”. Em 1874, essa localidade já era distrito de paz, contava com uma delegacia, cerca de “405 casas habitadas por 1.400 pessoas”. O culto ao Bom Jesus da Lapa, que já começava a imperar entre a população e toda área ao redor do morro, passou a ser conhecida como “Senhor Bom Jesus da Lapa”. Em 18 de setembro de 1890 foi transformada em vila pelo então governador da Bahia, Virgílio Clímaco Bezerra, que também criou o respectivo município, formado pelos distritos de “Lapa” e “Sítio do Mato”. Sua instalação ocorreu a 7 de janeiro de 1891, em meio a grande festa.

“Segundo a divisão administrativa do Brasil, de 1911, Bom Jesus da Lapa é município de distrito único do mesmo nome. A sede foi elevada à categoria de cidade, por efeito da Lei Estadual número 1.682, de 31 de agosto de 1923.” Hoje, além do distrito sede, Bom Jesus da Lapa possui vários distritos.

GEOGRAFIA

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O território da lapa é todo plano, sobressaindo-se apenas o morro da gruta. Ele tem 93 metros de altura e pode ser visto de qualquer parte do município. Nele predominam os picos do Lajedo e o da Cara Suja. É nesse morro que se encontra a capela erigida em homenagem ao Bom Jesus trazido por Francisco Mendonça Mar e, no alto, um cruzeiro com 12 metros de altura. Para lá se sobe através de degraus, construídos em 1937, facilitando a ida e vinda dos peregrinos em suas promessas. A Gruta da Lapa possui, geologicamente falando, uma formação siluriana de calcário-cinzento da série Bambuí, descoberta no Brasil. Nela é comum se encontrar fósseis de crustáceos e “favosites” (espécie pré-histórica que hoje é estudada minuciosamente em todo o mundo).

Também nessa gruta foram encontrados esqueletos, conchas e apetrechos indígenas, levados para Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, para serem estudados. Seu salão mede 38 metros, com um teto formado por calcita com tonalidades que variam do cinza ao branco. Uma estalagmite de 1,10 metros de altura e 1,60 de circunferência, transformou-se em 1936, em pia batismal e ainda hoje é utilizada. Um Monte Calvário na própria rocha, fez com que, anos mais tarde, um monge ali colocasse um crucifixo. Em um canto, um fonólito serve de sino, sendo tocado pelo bater de pedras adequadas. Nessa gruta, celebra-se anualmente, a maior romaria da Bahia, reunindo visitantes de várias partes do país.

Geograficamente, a Lapa possui ainda montanhas como a do Ramalho, Vara Suja, Jibóia, Cascavel e Mourão. O Rio São Francisco corta o município por 156 quilômetros, enquanto que o Rio Corrente percorre apenas 48 quilômetros. Inúmeras ilhas fluviais dão um toque todo especial à região.

ROMARIA

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Desde 1691, com a chegada de Francisco Mendonça Mar, que o Senhor Bom Jesus é festejado na Lapa. Primeiro pelo próprio eremita. Depois, pelos curiosos e finalmente, por milhares de fiéis que abrem o mês de agosto com a maior festa religiosa do interior do Estado. A cidade se transforma em uma Meca, onde a peregrinação faz com que a Lapa chegue a receber um número de turistas e romeiros, superior à sua população fixa, em curto espaço de tempo. Na verdade, os festejos religiosos se estendem por aproximadamente três meses, porém é no dia 6 de Agosto que tem seu auge, onde o fervor dos romeiros é posto à prova.

Pagando promessas dentro e fora da gruta, abaixo ou em cima do morro, no cruzeiro, eles chegam de diversas partes do estado, em ônibus, caminhões, em animais de montaria, barcos e até mesmo a pé. No dia 31 de agosto – Dia da Cidade – a festa toma ares profanos, mas logo em seguida, recupera seu ar de religiosidade. Em suma, a fé toma conta dos moradores da Lapa.

Alguns historiadores acreditam que naquela região, existia em tempos remotos, uma aldeia dos índios “Acoroaces”, também designados por “Coroados”. Os esqueletos encontrados na gruta durante a construção do altar-mor e nas diversas reformas internas ali realizadas, dão conta de que muitas pessoas já viveram naquela área, antes um covil de onças. Isso aumenta ainda mais a fé dos romeiros que há cerca de três séculos, peregrinam anualmente.

A religiosidade, que sempre tomou conta dos moradores de Bom Jesus da Lapa, pode ser constatada até mesmo no plano urbanístico em que se formou a cidade. As casas, localizadas às margens do São Francisco, foram erigidas com a frente para o morro, contrariando toda estrutura urbana, que faz com que eles tenham sua frente para o rio. A ideia religiosa tomou conta dos habitantes, e hoje toda cidade respira esse clima 24 horas por dia.

Texto de João Martins e Transcrição da REVISTA INTEGRAÇÃO, Edição nº 25 – janeiro/fevereiro de 1996 – páginas 10/12. Fotos: Diocese do Bom Jesus da Lapa http://www.bomjesusdalapa.org.br

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Bibliografia:

  • CAPISTRANO DE ABREU, J. – Capítulos de História Colonial – 1500/1800 – Sociedade Capistrano de Abreu – Livraria Briguiet – 1954
  • ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS – IBGE – Volume XX – Tomo I – Pág. 77 – Rio de Janeiro – 1958
  • RIBEIRO, João – História do Brasil – Livraria São José – Rio de Janeiro – 1953

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